Vivemos em tempos ditos
pós modernos. A "Globalização" é a grande consequência da
contemporaneidade da famosa mão invisível que controla as relações de
mercado dita por Adam Smith no século XVIII e a materialização do
enfraquecimento dos poderes de Estado e das influencias midiáticas e do
capitalismo contemporâneo. Com isso vemos surgir uma nova noção de
temporalidade que desvirtua o conceito que era empregado desde que a
História é História, desde que o tempo e o espaço deixaram de ser um.
É
complicado dizermos que vivemos o "nosso tempo". As coisas hoje se dão
de um jeito que a temporalidade deixou de existir. Fredric Jamerson
(1991) caracteriza isso de um modo muito didático e claro, ao afirmar
que
o pós moderno deve ser caracterizado como uma situação na
qual a sobrevivência, o resíduo, o remanescente, o arcaico, foram
finalmente varridos para longe, sem deixar traço. No pós-moderno, então,
o próprio passado desapareceu (junto com o bem conhecido "sentido do
passado" ou historicidade e memória coletiva)... A nossa é uma condição
modernizada de forma mais homogênea; já não somos estorvados pelo
embaraço de não-simultaneidades e não-sincronicidades. Tudo alcançou a
mesma hora no grande relógio do desenvolvimento ou da racionalização
(pelo menos da perspectiva do "Ocidente") (pp. 309-10).
Não há
mais a produção de um passado humano, mas sim a constante mudança do
presente, a grande subjetividade do espaço. Dizer, por exemplo, que o
Brasil um dia vai ser um país semelhante aos Estados Unidos, que ele só
está atrasado temporalmente em relação ao outro, é desconsiderar as
espacialidades do território brasileiro, além, claro, dos fatores
sociais, políticos, enfim. A aniquilação do espaço pelo tempo é uma
cortina de ferro. O que vemos hoje é o contrário. Não produzimos mais
passado, não há futuro. O ontem, o hoje e o amanhã são presente. O tempo
foi aniquilado e materializado no espaço.
Ao considerarmos que a
História de um sentido marxista materialista terminou, devemos
considerar também que ninguém mais faz História. No nosso caso
específico, então, posso afirmar com veemência; Britney Spears não faz,
não fez e nunca vai fazer História. Ora, se num tempo em que o pobre
idolatra o rico, que o empregado idolatra o patrão, que o dominado se
entrega ao dominante com consentimento, não há mais polarização entre
classes, não há mais a resistência à dicotomia social e, então, num
sentido marxista-materialista, não há mais História para se fazer.
Britney
Spears, então, não está presente na História. Mas isso faz dela uma
qualquer, sem importância? Absolutamente. Não podemos esquecer que temos
a subjetividade dos espaços sociais, econômicos, políticos e culturais.
Sabemos que a cultura popular industrializada é aquela em que a
informação é tratada de modo que não traga nada novo, nada espantoso,
nada repugnante, nada que faça o consumidor pensar. E Britney Spears é
só mais uma dentre todos e todas do meio que assim o fazem. Mas o que há
de diferente nela, então?
Ora, se considerarmos a subjetividade
dos espaços ao longo do globo, ao considerarmos que a "Globalização"
está mais para jargão jornalístico do que para termo geográficos,
chegamos à resposta de nossa dúvida rapidamente. Britney Spears se
destaca porque ela, apesar de não fazer História, assim como ninguém o
faz, ela deixa sua marca, sua
grafia no espaço. É evidente que,
ao ultrapassar as barreiras dos espaços socioculturais de todas as
nações do mundo - feito alcançado por poucos artistas populares do
século passado e do atual -, Britney Spears tem algo a mais para nos
mostrar. E não é porque ela veio com o novo. É porque Britney Spears tem
a capacidade pessoal e intrínseca de otimizar, ao máximo, seu papel de
dominante. A sua existência é auto explicativa no Sistema atual. Não há a
necessidade de atribuirmos a ela qualidades que justificam a sua
eficiência como artista da música popular, porque ela foi escolhida a
dedo para fazer aquilo que sabe de melhor. Não é a própria que diz que é
uma escrava para você? Eu diria, então, que a recíproca é verdadeira, e
que Britney Spears, nos tempos de alienação consentida, faz ainda mais;
seus fãs pedem para serem dominados por ela.
Sua marca vai ser
permanente? Com a inexistência do tempo e com a subjetividade do espaço,
é contraditório afirmarmos que sim. Esperemos pelo futuro chegar para
sabermos, se ele chegar.
Artigo escrito pelo estudante em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Othon Silva, em 02 de Junho de 2012.
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